Wednesday, May 30, 2007

o espirito é bué da geometra


Durante muito tempo avacalhei as minhas glórias internas – não suportava os ímpetos sublimes da adolescência na sua forma crua – no entanto só perseguia os clarões da Doxa. Tornei-me obliquo aos gostos sucessivos que implantaram as modas – também me tornei mais secreto e discreto – uma febre reaccionária fazia-me relacionar eróticamente com os mestres do passado – enumerar os gostos é deprimente, mas não caí em apetites pitorescos – gostava de gravuras chinesas, marginálias medievais, frescos romanos, livros seiscentistas, poetas gongorizanters, etc.

Nunca acreditei nas correspondências entre linguagens, mas fazia corresponder a estruturas geométricas designações simbólicas só para atraír os demónios do acaso e para erigir edificios de conceitos. Deixei de acreditar em revoluções abruptas mas persegui a hipótese de um progresso mimético – a liberalização e a maximização da complexidade, quer na consciência quer nos sentidos. Recusei os silênciamentos, e as pirosas adjectivações com se olha para o suposto sublime. Deixei-me arrastar pelo demónio interno que nos pulsiona aos solavancos – mas soube sempre o que é que andava a fazer.

Nada me alucinava. Porque é que não andei nas escolas da alucinação? As imagens vêm-me porque muito me exercitei – é claro que há uma disponibilidade divina para que o teatro das imagens se solte e se forje. Os nossos limites físicos reduzem a possibilidade de uma doentia produção infinita – apesar disso sinto-me prolixo.

Explorei os sofismas porque a sua lógica se tornou uma sobremesa bastante agradável – há nos sofismas uma propensão para a magia que faz com as imagens encontrem sentidos mais densos dentro de uma falsa desordem.

Foi então que percebi que o espirito geometriza as ordens e desordens que lhe apetece criar e enterlaçar.

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