Wednesday, May 30, 2007

cornudos, mas não ofendidos


Os diabos colocaram-nos cornos. A existência é uma orgia. A natureza é discretamente pornográfica. A sociedade é-o ainda mais, òbviamente. As imagens de Khajuraho fervilham-nos nas entranhas. As esculturas eróticas ajudam-nos melhor a perceber os mecanismos e os agenciamentos da physis. Os deuses antigos usavam laca. Mas os ascetas não vão à manicure. Que queres saber da natureza? Que esta dança, dança, dança, como algo ondulante que deve atravessar galáxias?

O planeta mestiça-se. Os brancos desembarcam em voos baratos para saborear uns licores exóticos em hoteis assépticos. Os negros atravessam perigosas fronteiras na esperança de baixos salários e suburbios saracoteantes. As cidades europeias e americanas são colonias tribais – não há esperança de importar deuses belos em forma de possantes animais – fica o folklore de uma missegenação incipiente filtrado por tecnologias ferteis. Os filhos mantêm-se agarrados aos ecrans e dispensas dos pais. Os filhos pródigos não são os que regressam, são os que não regressam ou não saiem.

Amemos as quimeras, os ideais, os erros, e a sua admirável museologia. O amor é um escape do divino. Todos os amores são divinos. Sobretudo quando permanecem ou falham. É a imanencia que torna tudo mais articulado, sagrado e forte.

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