Wednesday, May 30, 2007

estalagem 3




Os pecados capitais são os pecados do Capital – o desenvolvimento do mundo é satânico? A pobreza franciscana consola-nos de todos os males? Há uma cobardia em não assumir um egoismo, ainda que imberbe. Já passamos há algum tempo a fase da danação. O que nos parece catastrófico e sujo seria admirável milagre em qualquer outro recanto do universo.


Gostariam que eu exibisse as minhas faculdades, e que, como terno gurú, vos conduzisse ao abismo hipócrita da devoção. Só vos posso dar desconcertos vários, até que o desconcerto do mundo entre em ruídosa (e ruinosa) harmonia com o vosso e nosso desconcerto.

Tenho dos meus antepassados a identica vergonha de qualquer identidade. A maneira de sermos obliquos seja ao que for ubiquou-nos.

Desfazemo-nos da pilosidade, mas arrancamos os pelos um a um, sem pressa. Falamos das virtudes do espirito combativo mas somos bonzinhos de mais. A luta é connosco, entre nós, como refutação canalha e aquilo que nos forma enquanto saque e plagiato. Falamos em barbarizar-nos, em implodir as maneiras e vestes, mas tudo isso é má treta só porque adiamos a cathársis que a teatralidade promete mas não oferece.

Gostamos de comer chocolate: os adjectivos que faziam malditos e magnificos os grandes poetas de outras eras não nos assentam, muito menos como luvas. Vivemos na luxúria e na cólera involuntáriamente. A mentira é hoje muito mais verdadeira do que a verdade. A hiperrrealidade é mais venturosa que a naturalidade. A pujança de Deus foi ultrapassada pelas velocidades bífidas da técnica.

Tenho tentado desdomesticar-me, mas sinto uma empatia com os bafos tépidos e algo burgueses da familia. Nada de sonambulismos de evasor. Tenho visto aqueles que fugiram com o rabo à seringa das serigaitices burguesas arrastarem-se como espectros em estradas amargas, como mendigos cretinos que já não apascentam nenhuma ilusão.

No comments: