Saturday, June 16, 2007

(im)prudência (var. teoricas)


uma teoria é uma imprudência a que me atiro


no que diz respeito à arte a teoria é essa imprudência climática, ambiental, que constitui uma espécie de «sistema eco-poético da arte», o seu bairro-da-lata (no sentido ém que o artista é bairrista, plantando as suas couves, construindo com restos, e tendo lata)


o bem fundado das teorias o que é? é o constuirem-se como encadeamento silogistico, isto é, o forjarem-se como nuvem proposicional (pulsional?)?


quem já experimentou teorias sabe que consegue arrastar os encadeamentos lógicos para onde quizer, desde que as suas bases sejam especiosas - as formalidades da lógica dão alguma elegância arquitectónica ao edificio mas não garantia de uma verdadezinha racional


a teoria pode ser o desenvolvimento de algumas intuições banais ou espetaculares que se soltam do que o meio ou as influências (antigas, de agora) prometiam


a teoria pode ser o cabide onde se penduram as refutações, sejam elas a negatividade de um status quo, sejam elas como que negatividades de negatividades - isto é, uma positividade maliciosamente reivindicativa


a teoria pode ser variação pelo prazer da variação dos «temas teóricos» - nesse sentido os leitmotivs teóricos são como as frases musicais - quiçá até mais transformáveis


a teoria pode ser pura paródia das outras teorias - no sentido em que reproduz e deforma o que nelas é esbracejante, transformando-as em algo caricato, ou em algo alegremente outro


uma teoria nunca é (a sério?) a prudência de não ter teorias (que também é paradoxalmente, uma teoria, mediocre e banalizada)


é certo que a arte pode crescer em autores sem teorias, para lá daquelas, do senso comum, que eles se servem para se orientarem na vida - mas eles incorrem na vulnerabilidade de que alguém possa dizer o que quizer, isto é desapropriá-los (o que é inevitável), manipulá-los, falsificá-los, etc.


uma teoria pode até ser ( e é normalmente) o espelho dos clichés que vagabundam nas conversas da «sociedade», sem que a gente saiba o que é que esses termos das conversas queiram exactamente dizer - são termos semi-cegos de ligação social - a maior parte das teorias forma-se «socialmente» no bulicio com que nos inclinamos mais para um género de coisas e nos distingimos opinativamente de outras - é bom ver como é que as opiniões mudam nos meios e seria útil, sociológicamente, fazer um estudo das mudanças de estados opinativos relativamente a quem é quem, o que é que é bom, e o que é que é importante e desimportante, e de como isso se dá segundo atitudes/estratégias (activas ou passivas) miméticas/meméticas


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